E por que ela é insubstituível na Ciência de Dados
Alguns anos atrás, assisti a uma palestra do rabino Nilton Bonder. Em determinado momento, alguém o questionou sobre sua opinião a respeito dos novos formatos de família — dois homens, duas mulheres, múltiplos parceiros. A resposta dele foi inesperada. Disse que o formato em si não lhe preocupava. O que realmente importava era se, dentro dessas novas configurações, permanecia vivo o desejo mais profundo que nos constitui: o desejo de que os filhos sejam melhores que os pais. “Esse desejo”, disse ele, “é Deus”.
Essa fala me acompanhou até os dias de hoje. E, como cientista de dados, não pude deixar de trazê-la para o novo contexto do universo dos dados, algoritmos, inferências, inteligência artificial e previsões. Hoje estamos vivendo uma revolução na análise de dados. Ferramentas cada vez mais poderosas automatizam tarefas antes exclusivas de especialistas. Modelos geram modelos. Linguagens naturais programam códigos. Análises exploratórias são entregues em minutos. E, inevitavelmente, surge a pergunta: a inteligência artificial vai substituir o cientista de dados?
Sim, em muitos aspectos. Rotinas serão otimizadas. Scripts, automatizados. O esforço braçal, amplamente reduzido. Mas minha inquietação vai além da substituição. O que me preocupa — e inspira este texto — é se continuaremos desejando entender como as coisas funcionam. Se o prazer de explorar um fenômeno complexo, decompor um processo, modelar um sistema ou inferir um comportamento permanecerá vivo em nós.
O verdadeiro cientista de dados — e aqui falo mais como um ofício do que como um cargo — não trabalha apenas para entregar uma métrica ou automatizar uma tomada de decisão. Ele trabalha movido por uma curiosidade quase infantil. Um desejo quase metafísico de ver beleza onde outros veem ruído.
Esse desejo não pode ser automatizado.
Quando nos debruçamos sobre uma base de dados e descobrimos uma regularidade escondida, um padrão inesperado ou uma causalidade improvável, não estamos apenas “fazendo nosso trabalho”. Estamos tocando, ainda que brevemente, algo sagrado: a inteligência por trás das coisas.
Há beleza em entender o porquê da evasão escolar num território específico. Há beleza em compreender como uma anomalia meteorológica se traduz em perdas logísticas. Há beleza em prever o colapso de uma rede elétrica com base em dados históricos e variáveis externas. Essa beleza não está no código — está no entendimento.
Na Murabei, falamos muito sobre inovação, eficiência, inteligência artificial aplicada. Mas nunca nos esquecemos de que o verdadeiro valor está em outra camada: no desejo de compreender. Essa é a centelha que mantém viva a ciência de dados como arte, e não só como indústria.
Se perdermos esse desejo — como diria o rabino Bonder — talvez não estejamos mais fazendo ciência. Talvez estejamos apenas operando sistemas. E nesse caso, a máquina pode, sim, nos substituir.
Mas enquanto houver alguém disposto a perder horas mergulhado em uma hipótese improvável, a ajustar manualmente um modelo para capturar uma nuance, ou simplesmente a se maravilhar com a forma como uma variável influencia outra — haverá lugar para nós. Haverá sentido em sermos cientistas.
A beleza de entender as coisas é, no fim das contas, a nossa forma de tocar o divino.
Sobre a Murabei
A Murabei é uma empresa especializada em Data Science e IA, movida pela curiosidade e pelo compromisso de usar a ciência para fortalecer decisões que transformam empresas e a sociedade. Aplica o método científico com rigor e transparência, indo além do óbvio e questionando cada suposição para viabilizar decisões mais inteligentes.
Acreditamos que a inteligência artificial não substitui a inteligência humana, ela a potencializa. Por isso, criamos um ambiente onde máquinas e pessoas trabalham juntas, unindo algoritmos avançados, dados estruturados e não estruturados, e o conhecimento prático dos nossos clientes para gerar soluções precisas e adaptáveis.
Desenvolvemos soluções que ampliam a capacidade analítica das empresas e contribuem para a construção de um futuro mais inteligente e orientado pela ciência.
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