Elasticidade de preço: da métrica à decisão (com visão dinâmica)

Em qualquer setor, seja varejo, serviços, finanças, transporte aéreo ou B2B, pequenos ajustes de preço podem causar grandes impactos nos resultados. A elasticidade-preço traduz, de forma clara, como a demanda reage a variações de preço. Calculada com método, ela torna a precificação mais previsível, defensável e orientada a dados.


Capítulo 1 – Conceitos essenciais (rápidos e úteis)

“O número é o regente das formas e das ideias.” – Pitágoras

 
A elasticidade é, em essência, um número que descreve a sensibilidade do preço. Um conceito simples, mas de enorme poder interpretativo.

  • Elasticidade própria: é a variação (%) da demanda quando o preço muda 1% (ex.: se a elasticidade é −2, uma variação de +1% no preço leva à um impacto de −2% nas vendas).
  • Elasticidade cruzada: representa sua demanda em função do preço de outros produtos (substitutos ou complementares).
  • Elasticidade relativa: sensibilidade do seu preço em relação ao concorrente.

 
O que esperamos? Em geral, esperamos que a elasticidade seja negativa: quando o preço sobe, a demanda tende a cair. E o contrário também vale.
 
Como calculamos? Com um modelo para a demanda que relaciona as vendas com o preço e outras variáveis de contexto (sazonalidade, economia, clima, concorrência, ruptura, etc.).


Capítulo 2 – Elasticidade dinâmica: duas camadas que enxergam “o agora” e “o que vem”

“Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio.” – Heráclito

 

Por que olhar elasticidade de forma dinâmica?

Porque o mundo é dinâmico: clientes mudam hábitos, concorrentes ajustam preços, campanhas entram e saem do ar, estoques oscilam, canais ganham e perdem relevância – e a sazonalidade faz o restante. Nessa realidade, tratar a elasticidade como um número fixo aplana o cenário e esconde movimentos importantes.
 
Uma forma potente de capturar esse dinamismo são os modelos de espaço de estado, estruturados em duas camadas: uma para medir a elasticidade em cada período e outra para modelar sua evolução ao longo do tempo.

 

1) O que define essas camadas?

Cada camada é, na verdade, um modelo, e juntos eles se complementam:

  • Modelo de estimação (medição): relaciona vendas, preço e demais fatores para medir a elasticidade em cada período, garantindo coerência e qualidade dos dados.
  • Modelo de evolução (previsão): define como a elasticidade evolui no tempo (tendência, sazonalidade, choques).

 
Com essa dinâmica, prevemos a elasticidade e a demanda futura – não apenas explicamos o passado.
 
Um modelo “tira a foto” do agora; o outro “filma” o que vem. Juntos, entregam insights mais profundos e decisões mais seguras sobre o preço.

 

2) Como esses modelos aprofundam a gestão de preço?

  • Separa o permanente do passageiro: não confunde ruído com mudança estrutural.
  • Explica o porquê: identifica quando a sensibilidade subiu/baixou e o que influenciou esse comportamento (campanha, ruptura, mídia, clima).
  • Prevê janelas de oportunidade: se a elasticidade vai cair, é hora de elevar preço e proteger margem; se vai subir, ajuste promoções ou reduza preço para sustentar volume.
  • Melhora a previsão: a dinâmica da elasticidade compõe a previsão e reduz surpresas.

Capítulo 3 – Bayes na prática: quando dados e bom senso caminham juntos

“A probabilidade é o bom senso convertido em cálculo.” – Pierre-Simon Laplace

 
Laplace foi um dos fundadores da estatística moderna e talvez o primeiro a perceber que o raciocínio humano é, no fundo, probabilístico. Ele afirmava que, quando tomamos decisões, não trabalhamos apenas com dados mas também com o que já acreditamos saber, e que o segredo está em atualizar essas crenças à medida que novas evidências surgem. Essa ideia foi formalizada no Teorema de Bayes, base de uma das metodologias mais elegantes e úteis da ciência de dados.
 
Modelos “puros” podem produzir resultados tecnicamente bons e, ainda assim, serem incoerentes com regras de negócio (como elasticidade positiva). A Inferência Bayesiana resolve isso ao permitir que conhecimento prévio, regras, expectativas e limites, entre na formulação.
 
O que é conhecimento de negócio na prática?

  • Sinal esperado: elasticidade ≤ 0.
  • Ordenação natural: versões premium tendem a ser mais inelásticas.
  • Suavidade temporal: elasticidade evolui sem saltos abruptos sem justificativa.
  • Hierarquia: parâmetros compartilham informações dentro de grupos parecidos (SKU, categoria, região).

 
Por que isso importa?

O Teorema de Bayes permite criar modelos mais realistas, estáveis e auditáveis, onde o conhecimento de negócio é parte do código-fonte da decisão. É o ponto em que a estatística encontra a estratégia.

 

 


Capítulo 4 – Incerteza: medir para decidir melhor

“A dúvida não é uma condição agradável, mas a certeza é absurda.” – Voltaire

 
A incerteza é como o ar que respiramos: invisível mas sempre presente. Ela se encontra especialmente nas previsões: mercados mudam de humor, concorrentes se movem, e até os dados, que deveriam ser firmes, trazem seu próprio ruído. Por instinto, preferimos simplificar, fingir que existe uma única resposta, pontual. Só que decidir com um único número é como andar no escuro: cada passo confiante pode ser o primeiro rumo ao tropeço.

 

Por que medir a incerteza?

Porque não é a mesma coisa aprovar um preço com elasticidade precisa e outro com incerteza alta. No primeiro caso, há chão firme, e no segundo, cascalho. O papel do cientista de dados é reduzir a incerteza, mas chega um ponto em que ela não cai mais. Nesse momento, é preciso colocá-la sobre a mesa e decidir com ela, e não apesar dela.
 
A incerteza não é inimiga, ela é parte do conhecimento. Medir e mostrar a dúvida melhora a conversa de negócio e leva a decisões mais responsáveis e previsíveis.


Capítulo 5 – Da medição à ação: otimização que respeita o negócio

“A ciência começa onde começa a medição.” – Dmitri Mendeleev

 
Depois de medir a elasticidade, entender sua dinâmica e tratar a incerteza, chega o momento de transformar tudo isso em decisão de preço. A otimização é a ponte entre a análise e a ação: ponto de encontro entre o modelo e o bom senso, onde os números se tornam escolhas reais de negócio.
 
O que entra no otimizador?

  • Elasticidades dinâmicas: medidas e previstas, mostrando como a sensibilidade ao preço muda ao longo do tempo.
  • Bayes: garante coerência e estabilidade dos parâmetros, mantendo o modelo fiel à lógica do negócio.
  • Incerteza explícita: cada preço candidato traz lucro esperado e uma faixa de risco, que orienta decisões prudentes.

 
Objetivo e regras do jogo:

A pergunta central é: o que queremos otimizar?

  • Receita: quando o foco é volume e participação de mercado.
  • Lucro: quando o objetivo é margem e rentabilidade.
  • Equilíbrio risco–retorno: quando é preciso estabilidade, maximizando lucro esperado e controlando volatilidade.

 
Esses objetivos convivem com regras práticas: pisos e tetos de preço, rampas de variação, coerência entre produtos, políticas comerciais e comparações com concorrentes. São os limites do jogo que mantêm a otimização realista.


Capítulo 6 – O que levar para a prática?

“Quando os fatos mudam, eu mudo de ideia.” – John Maynard Keynes

     

  1. Elasticidade é a métrica central da sensibilidade e vale para qualquer setor.
  2. Modelos de demanda podem estimar e prever simultaneamente. A mesma estrutura que calcula a elasticidade também projeta demanda e efeitos de promoção, permitindo testar cenários de preço e volume.
  3. Modelagem dinâmica (medição + evolução) gera insights mais profundos e previsões mais confiáveis. Separar o que é ruído do que é tendência mostra quando a sensibilidade muda e por quê. Essa visão temporal evita decisões reativas e cria estratégia.
  4. Bayes impõe bom senso e estabiliza resultados. A inferência bayesiana transforma regras de negócio em parâmetros: sinal, ordem, limites e suavidade. Isso gera estabilidade, consistência e resultados que “falam a língua” da empresa.
  5. Trate elasticidade como distribuição, decida olhando risco e retorno. Decisões baseadas em faixas e riscos são mais maduras.

 

Em resumo: preço pode deixar de ser uma aposta e passar a ser um processo científico.
 

Medir → compreender → prever → otimizar → aprender.

 
Quando esse ciclo se repete, cada rodada melhora a anterior: o modelo aprende com os dados, o time aprende com o modelo e o negócio aprende com os resultados, alimentando uma nova rodada de medição, compreensão e melhoria.
 
Essa é a essência da visão dinâmica da elasticidade de preço: um processo vivo que combina dados e experiência, técnica e intuição, cálculo e bom senso.


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